CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DA FIFA
SR. JOSEPH S. BLATTER
FIFA é patrocinada com trabalho indecente
SR. JOSEPH S. BLATTER
FIFA é patrocinada com trabalho indecente
A
Regional Latino-americana da União Internacional dos Trabalhadores da
Alimentação - Rel-UITA, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em
Turismo e Hospitalidade – CONTRATUH e entidades parceiras, por intermédio de
seus representantes legais abaixo assinados dirigem-se a V.Sa., presidente da
Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA), entidade organizadora da
Copa do Mundo Brasil 2014.
Informamos que
compartilhamos com a instituição que V.Sa. preside muitos dos princípios
incluídos nos regulamentos de seu estatuto e no Código de Ética, bem como nos
diversos textos nos quais são enunciados os princípios que regem as ações da
FIFA.
Nós apreciamos o futebol
como esporte em equipe, com espaços para a expressão da individualidade, da
solidariedade, da entrega, da criatividade, da paixão pelo esporte e o respeito
pelo jogo limpo (fair play).
Entretanto, a
globalização do futebol está de mãos dadas com a outra globalização, a das
corporações transnacionais e suas grandes marcas, associadas aos produtos
esportivos ou de consumo geral. E é sobre esta interseção dos princípios éticos
com o mundo do trabalho, o esportivo, o econômico e o das marcas globais que
queremos chamar a sua atenção.
“A FIFA assume a grande
responsabilidade de velar pela integridade e pela reputação do futebol no mundo
inteiro. Por este motivo, há um constante esforço para proteger a imagem do
futebol e, principalmente, para proteger a própria imagem, evitando condutas e
práticas ilegais, imorais ou contrárias aos princípios éticos reguladores e que
poderiam manchá-la ou prejudicá-la”, é o que afirma o próprio considerando do
Código de Ética da FIFA.
Em sua declaração dos
princípios a FIFA expressa que, “O mundo é um lugar pleno de beleza natural e
de diversidade cultural, mas também é um lugar onde muitos carecem de seus
direitos básicos. A FIFA tem agora a responsabilidade ainda maior de se
aproximar do mundo e emocioná-lo, utilizando o futebol como símbolo de
esperança e de integração”.
Ao descrever a sua missão, a FIFA declara ter como meta “contribuir para a edificação de um futuro melhor para o mundo através do poder e da popularidade do futebol. Cada atividade em que a FIFA se comprometer responderá à importância e à direção dessa missão, já que o futebol é parte integrante de nossa sociedade”.
Ao descrever a sua missão, a FIFA declara ter como meta “contribuir para a edificação de um futuro melhor para o mundo através do poder e da popularidade do futebol. Cada atividade em que a FIFA se comprometer responderá à importância e à direção dessa missão, já que o futebol é parte integrante de nossa sociedade”.
Senhor Blatter, entre os
patrocinadores oficiais da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 – qualificados
como “parceiros oficiais” pela FIFA – está a rede transnacional de fast-food,
McDonald's, uma empresa conhecida não só pela escassa salubridade de muitos dos
alimentos do seu cardápio, como também por explorar, maltratar e discriminar
seus trabalhadores e trabalhadoras.
Sejam os salários
irrisórios ou as desumanas e insalubres condições de trabalho, as longas
jornadas diárias e, principalmente, a repressão contra qualquer tentativa de
organização sindical, são provas da dura realidade vivida pela maioria dos
trabalhadores do McDonald's. Estes trabalhadores, espalhados em mais de 100
cidades do mundo inteiro, fizeram recentemente greves e protestos, que foram
registrados pela grande mídia internacional.
O MPT - Ministério
Público do Trabalho do Estado de Pernambuco, no Brasil, juntamente com a
CONTRATUH, ingressaram com uma ação na Justiça, em razão das práticas ilícitas
de jornada de trabalho, submissão dos trabalhadores, alimentação inadequada,
descontos indevidos na folha de pagamento, salários inferiores ao mínimo legal
e o mais gritante, o trabalho infantil, entre outras práticas degradantes de
exploração da mão de obra. Na ocasião, a empresa Arcos Dourados Ltda.,
franqueadora master do McDonald's na América Latina, realizou acordo no qual
efetuou o pagamento de 7,5 milhões de reais a título de danos morais coletivos
aos trabalhadores brasileiros.
Já no estado do Paraná,
Brasil, foi ajuizado processo contra a mesma empresa, Arcos Dourados, no qual
foi feito pedido de pagamento de 10 milhões de reais pela contratação de
crianças/jovens menores de 18 anos para atividades que implicavam riscos para a
saúde.
Também podemos nos
referir – entre muitos casos – ao de discriminação, comprovado há poucos meses
pela justiça espanhola no McDonald's Estación, na cidade espanhola de Granada.
A justiça condenou a empresa por discriminação ao haver imposto tarefas
humilhantes a um de seus trabalhadores, por este ter assumido militância
sindical no local de trabalho.
A repressão antissindical
é especialmente violenta na América Latina, onde são incontáveis os sindicatos
de trabalhadores que são varridos cotidianamente pelas gerências do McDonald's,
porque a empresa demite todos os seus filiados.
Isto é a negação
flagrante de um direito básico do ser humano: o de se associar, neste caso para
defender os direitos trabalhistas. Em resumo, é a negação de sua
dignidade.
“O progresso do futebol
implica apostar nas pessoas e na sociedade em geral. O futebol é a escola da
vida” afirmam os princípios da FIFA, e acrescentam: “O futebol já não é
considerado simplesmente um esporte global, mas uma força unificadora cujas
virtudes podem contribuir consideravelmente para a sociedade. Utilizamos o
poder do futebol como ferramenta para o desenvolvimento social e humano, para
fortalecer o trabalho de numerosas iniciativas em todo o mundo visando apoiar
as comunidades locais em áreas tais como a manutenção da paz, a saúde, a
integração social, a educação, entre outras”.
Diante do exposto, vimos
apresentar a V.Sa. nosso repúdio pela escolha do McDonald's como patrocinador
oficial da Copa do Mundo FIFA Brasil 2014, bem como requerer a exclusão da
referida empresa do rol de patrocinadores da Copa do Mundo, em virtude de suas
práticas contrárias ao Código de Ética e aos diversos textos enunciados por esta
Federação.
Subscrevemo-nos atenciosamente,
Moacyr Roberto Tesch Auersvald
Presidente da CONTRATUH
Gerardo Iglesias
Secretario Regional da América Latina da UITA
José Calixto Ramos
Presidente da Nova Central Sindical dos Trabalhadores - NCST
Jair Krischke
Presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos - MJDH
Luis Enrique Ramírez
Presidente da Associação Latino-americana de Advogados Laboristas - ALAL
Jaqueline Leite
Coordenadora Geral do Centro Humanitário de Apoio à Mulher - CHAME
Brasília (DF), 29 de maio de 2014.
Cópia para:
Organização Internacional do Trabalho - OIT
Ministério Público do Trabalho - MPT
Ministério do Trabalho e Emprego - MTE
Anistia Internacional - AI
Confederação Sindical Internacional – CSI
José Calixto Ramos
Presidente da Nova Central Sindical dos Trabalhadores - NCST
Jair Krischke
Presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos - MJDH
Luis Enrique Ramírez
Presidente da Associação Latino-americana de Advogados Laboristas - ALAL
Jaqueline Leite
Coordenadora Geral do Centro Humanitário de Apoio à Mulher - CHAME
Brasília (DF), 29 de maio de 2014.
Cópia para:
Organização Internacional do Trabalho - OIT
Ministério Público do Trabalho - MPT
Ministério do Trabalho e Emprego - MTE
Anistia Internacional - AI
Confederação Sindical Internacional – CSI